terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Doulando uma Ideia: Parto Normal X Cesareana - ENSP destaca que precis...
Doulando uma Ideia: Parto Normal X Cesareana - ENSP destaca que precis...: O Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento, coordenado pela ENSP/Fiocruz, busca conhecer os determinantes, a magnitude e os efeitos ...
Elogio Público ao Médico Drº Marcos Augusto Bastos Dias
Todos nós sabemos que a pressão é para fechar as casas de parto,
por isso, perseguem um médico que apóia a causa da humanização do
nascimento.”
1- Se você representa uma organização ou movimento social, solicitamos que endosse nosso elogio público, enviando para a ReHuNa, e-mail daphne.rattner@gmail.com, o nome de sua organização
Um abraço, Marcos Dias.
A coalisão de entidades abaixo relacionadas, amigos, companheiros de
trabalho, ex-pacientes e clientes atuais, mulheres e suas famílias vimos
a público manifestar nosso apreço e admiração pela trajetória
profissional no âmbito da assistência, pública e privada, do ensino e da
pesquisa do Médico Obstetra Dr. Marcos Augusto Bastos Dias, trajetória
essa pautada pela ética e pelo compromisso com a qualidade da atenção e
dedicação à saúde das mulheres e crianças. Elogiamos ainda sua
disponibilidade para trabalhar em equipe, sua competência técnica e
atitude humana, e seu empenho na implementação das políticas públicas, a
exemplo da implantação de novos espaços mais humanizados para
assistência ao parto, como os Centros de Parto Normal, política emanada
pelo Ministério da Saúde através da portaria GM 985/1999, referendada
pela RDC 36/2008 da ANVISA e um dos esteios da atual Estratégia Rede
Cegonha.
Segue abaixo o relato pessoal do Marcos Augusto Bastos Dias referente
à penalidade que lhe está sendo aplicada pelo Conselho Federal de
Medicina. A pena inicial de cassação do exercício profissional foi
atenuada para Censura Pública em jornal de grande circulação.
Fazemos parte de um movimento que considera essa censura pública
injusta, na medida em que ele nada fez de errado e, se pode ser acusado
de algo, é de sempre ter atuado em defesa da saúde de mulheres e
crianças e ter se esforçado para implantar políticas públicas que
favorecem essa população e qualificam a assistência.
Em decorrência, neste momento solicitamos sua adesão e apoio, que pode dar-se de duas formas, não excludentes:
1- Se você representa uma organização ou movimento social, solicitamos que endosse nosso elogio público, enviando para a ReHuNa, e-mail daphne.rattner@gmail.com, o nome de sua organização
2- Pretendemos publicar esse elogio público em jornal de grande
circulação e o custo é alto. Pedimos que você e sua organização
contribuam para que possamos fazer isso como resposta do movimento
social a essa injustiça, para a conta de Maria do Carmo Leal no Banco do
Brasil agencia 4220-X cc 15041-X. Caso deseje fazer transferência on
line, o CPF é 080099615-15. Sugere-se doação de cem a duzentos reais,
sendo possíveis valores maiores.
Como não sabemos quando será publicada a censura pública, mas
precisamos poder dar uma resposta pronta e imediata, solicitamos que
agilize na medida do possível sua adesão e/ou contribuição
Contamos com seu apoio – em defesa da SAÚDE!
Ishtar
Mensagem do Dr. MARCOS:
Em 08/12/2011 aconteceu em Brasilia no Conselho Federal de Medicina
(CFM) o julgamento de meu recurso contra a cassação de meu registro
profissional ocorrido em julgamento no Conselho Regional de Medicina do
Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ) em 31/03/2011. O processo contra
minha pessoa foi aberto pelo próprio CREMERJ para apurar os motivos de
minha assinatura em um atestado de óbito de um recém-nascido ocorrido na
Casa de Parto David Capistrano em Realengo no Rio de Janeiro.
Resumo do processo de julgamento Dr. Marcos Augusto Bastos Dias
relativo ao nascimento de um natimorto na Casa de Parto David Capistrano
da SMSDC/RJ
As 21h do dia 30/03/2011 aconteceu no Conselho Regional de Medicina
do Rio de Janeiro o meu julgamento. Não fui denunciado pela mulher ou
seus familiares, mas acusado pelo grupo materno-infantil do próprio
CREMERJ por ter assinado o atestado de óbito do recém-nascido de uma
parturiente que havia dado a luz na Casa de Parto David Capistrano em
Realengo, inaugurada em abril de 2004 durante o período em que era
responsável pela Gerencia dos Programas de Saúde da Mulher da Secretaria
Municipal de Saúde/RJ.
A gestante, que havia feito seu pré-natal na Casa de Parto teve seu
filho na noite de 22 para 23 de dezembro de 2004. Ao nascer não deu
sinais de vida e após manobras de tentativa de ressuscitação que não
obtiveram êxito foi considerada natimorta. Como na Casa de Parto não há
médico foi solicitado pela Enfermeira Leila Gomes, responsável pela
Direção da Casa de Parto, que a antiga Coordenação de Programas de Saúde
da Secretaria Municipal de Saúde do RJ providenciasse o atestado de
óbito.
Sabendo da necessidade de realização de uma necropsia a então
Coordenadora Dra Kátia Ratto solicitou à Diretora do Hospital Menino
Jesus que o exame fosse lá realizado. Após consulta a patologista do
hospital o corpo de recém-nascido foi levado ao referido hospital onde a
necropsia foi realizada pela Dra Maria Marcelina. Preocupados em
entender o que tinha determinado o óbito do recém-nascido e garantir que
a família pudesse sepultar a criança antes do feriado de Natal eu e a
Dra. Katia Ratto fomos até o hospital onde discutimos os aspectos
clínicos do caso com a anatomo-patologista.
Como havia uma grande luta do CREMERJ contra a abertura e
funcionamento da casa de parto, a Dra Maria Marcelina se sentiu
constrangida de assinar a declaração do óbito com medo de ser punida por
aquele órgão. Foi então que me prontifiquei a assinar o atestado de
óbito que foi preenchido conjuntamente com a patologista segundo os
dados macroscópicos da necropsia. Seguindo orientação minha e da Dra
Katia Ratto a Diretora do Hospital Menino Jesus oficia o CREMERJ
informando que o exame de necropsia havia sido realizado naquele
hospital.
É a partir da chegada desta comunicação ao CREMERJ que o mesmo abre
de ofício uma sindicância que mais tarde se transforma em um processo
ético-profissional contra a minha pessoa. Apesar da defesa constante no
processo evidenciar que não havia motivo para minha condenação o
referido órgão determinou minha cassação que depende agora de referendo
do Conselho Federal de Medicina.
À revelia dos autos do processo o julgamento tratou exclusivamente do
funcionamento da casa de parto. Vários dos conselheiros manifestaram
sua raiva por não terem conseguido ainda fechar aquela unidade de saúde.
Não foram discutidos os aspectos da minha defesa relativa ao
preenchimento do atestado de óbito, mas minha responsabilidade pela
abertura da Casa de Parto que para eles se evidenciava na minha decisão
de assinar o atestado de óbito. Todos os conselheiros que se
manifestaram por ocasião do julgamento bradavam sua repulsa ao
funcionamento daquele estabelecimento e como na fala de um dos
conselheiros, os assassinos do bebê eram o prefeito da cidade e os
idealizadores da Casa de Parto dentre os quais me incluía. Foi na
condição de responsável pela abertura da Casa de Parto que decidiram
pela minha cassação.
No julgamento no CFM os Conselheiros entenderam por unanimidade que
houve no julgamento no CREMERJ a adoção de uma pena excessiva e que
embora concordassem com minha condenação achavam que a pena deveria ser
de censura pública a ser publicada em jornal de grande circulação no RJ.
Novamente neste julgamento foi ressaltada a oposição do CFM as Casas de Parto.
Um abraço, Marcos Dias.
Marcos Dias foi diretor da pioneira Maternidade Leila Diniz,
fundada em 1994, importantissima para o desenvolvimento da humanização
do parto . Foi o coordenador da Saúde da Mulher do município do Rio de
Janeiro quando foi implantada a Casa de Partos de Realengo para a qual
muito contribuiu. Participou diretamente da organização das duas
primeiras Conferencias Internacionais sobre Humanização do Parto e
Nascimento. Foi Presidente da Comissão Cientifica da III.
sábado, 24 de dezembro de 2011
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Relatos de cesárea e parto da doula Helena
Esses são os relatos da nossa querida companheira e doula Helena, mãe do Luís Gustavo e da Carolina. Uma cesárea desnecessária e um parto normal após cesárea(PNAC) alguns anos depois.
NASCIMENTO
DOS MEUS FILHOS, MEU PARTO E SUAS LIÇÕES
Estamos em 2010, três anos
após meu VBAC, e sinto necessidade de escrever um novo relato, com uma reflexão
maior. Vai ser longo porque vou contar a história toda...
Tudo
começou quando engravidei pela primeira vez, em 2001. Eu e o Guilherme éramos
namorados, eu tinha ovários policísticos e fiz tratamento com homeopatia, que
se mostrou muito bem sucedido! Não foi planejado, mas hoje sei que foi
inconscientemente desejado. Eu estava grávida e não queria admitir nem para mim
mesma. Só fui descobrir com 12 semanas, em uma ecografia para investigar por
que eu não estava menstruando, rsrsrs...
Eu
queria parto normal porque achava que era assim que os bebês nasciam, ainda não
sabia da realidade obstétrica do nosso país. Minha mãe ficava preocupada porque
teve dois partos cheios de intervenções, sofreu bastante e eu e meu marido
somos grandes, então ela dizia: “vai com calma, vamos ver o tamanho desse bebê
primeiro...”. Instintivamente, eu achava que não tinha nada disso, que ele
nasceria normalmente e pronto. Eu lia sobre parto, treinava respiração, fazia
hidroginástica, mas não encontrei a informação que precisava para conseguir
parir.
Minha
médica era cesarista. Nunca atrasava ou desmarcava uma consulta, consultório
cheio de mães recentes para tirar os pontos, consultas rápidas. Perguntou se eu
queria normal ou cesárea e não fez nenhum comentário quando eu disse: normal.
Mas com 31 semanas, ele estava sentado e ela já sentenciou: vai ter que ser
cesárea. Confesso que me senti até aliviada, na verdade tinha muito medo do
parto.
Acho
que o fato dele estar pélvico não era suficiente, pois ainda poderia virar (eu
é que não sabia), então quando completei 33 semanas ela disse que o bebê não
estava crescendo como deveria e pediu uma ecografia com Doppler para verificar
a circulação entre a placenta e o Luiz Gustavo. Eu quase surtei. Fiquei
realmente preocupada que algo estivesse errado e talvez isso até tenha
contribuído para que eu entrasse em trabalho de parto prematuro com 34 semanas.
Foi
super engraçado. A família toda reunida na pizzaria, meus pais, sogros, irmãos
e cunhados, numa comemoração. Eu comecei a sentir umas cólicas, fui ao
banheiro, não passou, percebi que eram regulares, voltei para a mesa e,
disfarçadamente, pedi para o Guilherme marcar o tempo. Eu falava: agora. Depois
dizia: agora. E ele respondia: sete minutos. Depois seis. E cinco. A coisa
estava evoluindo rápido. A médica já tinha feito terrorismo sobre ele começar a
nascer de bumbum e ter algum problema. Saí para ligar para a médica e o
Guilherme ficou na mesa explicando o que estava acontecendo. Ela disse para eu
ir rápido para o hospital que a GO de plantão ia me atender, que ainda não
estava na hora de nascer.
Chegando
lá foi feito um toque: 2,5 cm
de dilatação. A médica me colocou no soro com o medicamento para inibir o
trabalho de parto e disse que se as contrações não parassem em não sei quanto
tempo, não iria segurar. Aplicaram corticóide para “amadurecer” os pulmões
dele.
Fiquei
lá a noite toda e mais dois dias, as contrações pararam, fui para casa, ficar
de repouso absoluto, tomando Brycanil, deitada o tempo inteiro, me movimentando
com cuidado para não romper a bolsa. Fiquei quatro semanas de repouso. Toda
sexta ia à médica, meu único passeio... Na quarta quinta-feira tive algumas
contrações à noite e, chegando ao consultório na sexta pela manhã estava com 5 cm de dilatação. Aí a médica
virou para mim, bem calma: já pode ir direto daqui para o hospital que logo eu
chego lá para fazer a cesárea. Eu estava com a minha mãe, ligamos para o meu
pai e o Guilherme, pedimos para eles levarem as malinhas e nos encontrarem lá.
No
hospital rasparam meus pelos com gilete e me levaram para o centro cirúrgico. O
Guilherme também entrou, toda a família esperando do lado de fora. Amarram meus
braços, judiaram para colocar o soro (a menina estava aprendendo, ui!), tomei
anestesia, senti o sangue sair quando a médica fez o corte. Senti que estava
difícil tirar o Luiz Gustavo porque o bumbum escorregava, ela não conseguia
segurar firme, eu sentia os puxões. O anestesista colocou as mãos na minha
cabeça, me acalmou, fez um carinho (o Guilherme estava deslocado, só
observando, não sabia o que fazer). Aí senti puxar forte, disseram que não era
dor, mas para mim era sim! Falei um “Ai!” bem forte e ele nasceu! Não ouvi ele
chorar, levaram embora, mas logo trouxeram, embrulhado, colocaram do lado do
meu rosto e eu pensei: tão branquinho... será que era ele mesmo que estava ali dentro
da minha barriga? Para mim não existia conexão entre a minha barriga grávida e
aquele bebê ali. Ficou um “?”, como diz aquela comunidade do Orkut. O médico
falou: “beijinho no nenê” e eu dei um beijinho, aí levaram para o berçário. Eu
fiquei ali, sendo costurada, santa paciência, como demora...
Depois
de muito tempo levaram meu filhote para o quarto, meus pais e sogros disseram
que ele ficou com os olhinhos abertos, olhando para eles pelo vidro do
berçário. Eu estava acabada. Destruída. Parecia que um caminhão tinha me
atropelado. A amamentação foi um suplício. Não tinha bico no meu peito, as
enfermeiras ameaçavam que ele teria que ficar nos hospital, tomando soro se não
mamasse. Deram uma seringa cortada para eu puxar o bico do seio, o que só fez machucar.
O calor estava insuportável, as visitas iam e vinham em comitiva, eu não tinha
um momento de privacidade para amamentar meu bebê! Depois de não sei quanto
tempo, talvez só no dia seguinte, o colostro saiu e ele começou a sugar.
Não
tive reações desagradáveis à anestesia, mas não conseguia fazer xixi. Tiveram
que colocar sonda três vezes. Foi um suplício. Quando cheguei em casa estava
muito cansada e as visitas continuavam. A pele onde os pelos foram raspados
ficou super irritada, coçava, ardia, o desconforto foi terrível.
A
amamentação acabou sendo um sucesso, ele mamava dia e noite de duas em duas
horas, meia hora em cada peito. Cresceu e engordou assustadoramente rápido. No
começo os bicos do seio racharam, tive mastite, tratei só com homeopatia, sarou
e amamentei até ele completar um ano. O vínculo entre nós era algo mágico, eu
estava apaixonada pelo meu filho e ele por mim :o)
Quando
resolvemos engravidar pela segunda vez, no final de 2005, eu fiz exames com a
minha médica (a mesma), parei com a pílula e ficamos usando camisinha por uns
dois meses. Eu não me lembro se engravidei primeiro ou se ainda não estava
grávida quando fui procurar uma comunidade sobre o assunto no Orkut. Acabei
encontrando a “gravidez, parto e maternidade”, da Drika, doula. Eu nunca tinha
ouvido falar em nada daquilo. Descobri amigas do parto, parto do princípio,
devorava os relatos, era aquilo que eu queria prá mim! Um parto natural, sem
intervenções, um nascimento suave para o meu bebê. Pensei: preciso achar um
médico que me assista, a que eu tenho decididamente não serve. Comecei a
procurar e descobri apenas uma médica, Rose Fischer, que atendia parto
domiciliar, mas não aceitava plano de saúde. Quando falei com o Guilherme que
queria parir em casa, com a médica particular, ele vetou na hora. Achou absurdo
pagarmos plano de saúde e termos que desembolsar um valor daqueles, ficou
aterrorizado com a ideia de um parto domiciliar (ele tinha muito medo que eu
morresse no parto, mas só fui descobrir mais tarde). Eu, que não estava tão
segura da minha ideia, desisti fácil.
Fiquei
desesperada tentando achar um médico do plano, do jeito que eu queria. Acho que
foi aí que a Vanessa Rosa criou a comunidade “grávidas de Curitiba” no Orkut e
eu fiquei sabendo de uma mulher que tinha acabado de parir com o Carlos Miner
Navarro, que atendia meu plano. Ufa, eu estava salva! Marquei a consulta,
conversamos muito, gostei dele, mas cometi um grande erro: achei que tudo já
estava resolvido. Perguntei sobre doulas, ele só conhecia a Juracy Ayres, já
trabalhava com ela. A Felicitas tinha feito o curso, mas estava trabalhando
muito e não garantiu sua presença no dia do parto (ainda bem, porque ela acabou
parindo quinze dias antes de mim!). Marquei entrevista com a doula Juracy,
gostei dela, ela foi fundamental na “conversão” do Guilherme, fizemos um
encontro com molde da barriga em gesso, ela mostrou o vídeo do parto da Naolí e
um outro, ele adorou.
Combinei
com a doula que ela iria numa consulta comigo, para combinarmos os detalhes do
parto com o médico, mais no final da gravidez. Eu marquei uma consulta com o
pediatra da maternidade para tentar negociar os protocolos de atendimento ao
recém-nascido com ele. Só que todos nós descuidamos de um detalhe que não
devíamos ter desprezado: na primeira gravidez eu tinha entrado em TP com 34
semanas, por causas desconhecidas. E dessa vez não foi muito diferente.
Eu
tinha deixado tudo para a última hora, não tirei fotos, não fiz plano de parto
(só para a Carolina, escrevi as coisas que não queria que fizessem com ela).
Era sábado, eu estava completando 35 semanas e a consulta com o pediatra seria
na quarta. Acho que a doula iria comigo no GO na mesma semana. Fiz meu chá de
bebê e não parei um minuto. Só no final do dia percebi como estava cansada, não
tinha sentado, minha barriga pesava. Eu já estava pensando em começar a licença
logo, não aguentava mais trabalhar, queria curtir um pouco a barriga, me poupar
mais...
No
domingo de manhã fomos ao parque, Guilherme acompanhando Luiz Gustavo na
bicicleta, eu andando devagar, atrás deles. Cansei demais, precisei sentar e
esperá-los. À tarde, sentei na poltrona do quartinho dela e fiz uma lista de
tudo que ainda faltava fazer! Aí comecei a sentir umas cólicas. Achei que
fossem gases, não queria nem pensar em outra possibilidade...
Fomos
ao MacDonalds lanchar, já era noite, eu estava animada, ignorei um pouco o que
estava sentindo. Estávamos lá e eu percebi que os gases estavam ritmados,
rsrsrs... Contei no meu relógio: 10 em 10 minutos. Eram 21h00. Comentei com o Guilherme,
fomos para casa e eu já vendo que o intervalo estava diminuindo. Chegando lá
liguei para o Carlos que orientou a tomar Buscopam e ficar deitada. Se não
passasse, ir para a maternidade ser examinada pelo GO de plantão. Pensei: não,
por favor, de novo não!
Fiz o que ele falou e de nada adiantou. As
contrações continuavam. Fui ao banheiro, esvaziei o intestino e lembrei que
isso também era sinal de TP. Olhei no espelho e vi que minha barriga estava bem
mais baixa!
Chegamos
à maternidade à 01h30 da manhã. O médico me examinou: 3 cm de dilatação. Ligou para
o Carlos e comentou do TP de parto inibido na primeira gravidez, acharam que
valia a pena tentar. Era tudo que eu não queria, já imaginei ficar mais quatro
semanas deitada.
A
enfermeira já queria raspar meus pelos, foi levantando a camisola e perguntando
se eu estava depilada! Eu falei que meu médico não exigia e ela não insistiu.
Ficamos
no corredor esperando o internamento. As contrações ficaram mais doloridas,
lembro de ter pensado que da primeira vez não cheguei a sentir isso, a coisa
estava apertando, falei para o Gui que se demorasse muito ela ia nascer...
Fui para o mesmo quarto
que eu tinha visitado. Fiquei feliz porque o parto ia ser no quarto e, se
tivesse que nascer naquele dia, seria ali onde eu imaginei.
Fiquei naquele soro
horrível, tendo falta de ar e taquicardia até de madrugada. Deitada de lado,
conversando com a Carolina que não era hora de nascer, que se acalmasse. E as
contrações bem fortinhas... Em um certo momento parou porque eu dormi. De manhã
a enfermeira veio perguntar e eu disse que tinha passado, não estava mais
sentindo nada.
Mas de repente comecei a
sentir. Uma contração. Meia hora depois, outra. Mais meia hora e outra. O
Carlos chegou às 11h00 para me examinar e eu tive uma contração bem na hora.
Ele disse: “não precisa nem falar, acabou de ter uma, né?”. Ele fez o toque, olhou
calmo para nós (eu e minha mãe, o Gui tinha passado a noite lá e saído cedo
para o trabalho): “é, não deu certo, está com 7 cm de dilatação, vai nascer
hoje”.
Levei um grande susto.
Como assim, vai nascer? Eu estava totalmente comprometida com a missão de não
deixá-la nascer! Fiquei lá deitada sem saber o que fazer. Liguei para o Gui:
“volta, vai nascer!” e para a Juracy: “venha rápido, já estou com 7 cm !”.
O médico falou que íamos
esperar a dilatação total para ir para o centro obstétrico. Eu perguntei: “ué,
mas não dá para ser no quarto?”. Ele respondeu que não, que a maternidade
estava lotada, não tinha ninguém para ajudá-lo no quarto, a Carolina poderia
precisar de algum atendimento imediato, lá já estaria perto da UTI...
Fiquei arrasada. Pensei
pronto, tudo está perdido. Não vai ser nada do jeito que eu queria. Fiquei lá
deitada, ele foi procurar uma sala para mim no CO (as cesarianas agendadas
ocupavam todos os horários).
Era mais ou menos meio dia
quando fomos para o CO. O Gui tinha chegado e a doula ainda não. Eu não queria
minha mãe no parto, sabia que ela iria ficar com pena de mim e atrapalhar, ela
ficou no quarto nos esperando.
Quando entrei naquele
centro cirúrgico, com aquela camisola de hospital fechada na frente e aberta
atrás, vi aquela maca estreita, as paredes azulejadas, tudo tão frio... quase
chorei. Entrou uma enfermeira e falou que já ia chamar o anestesista. Aí eu
respondi que não ia tomar anestesia. Ela quase caiu para trás, disse: “Mas vai
ter filho assim, sem nada?”. Fiquei pensando se eu era tão louca assim, se a
dor seria mesmo insuportável. Foi quando a doula chegou, animada, me levou para
andar, buscou um copo de água para mim, tudo clareou, me senti mais relaxada,
mais à vontade.
Fiquei por lá caminhando,
gemendo, me apoiando na Juracy, na maca, quando vinha contração. O Carlos
perguntou se eu já estava sentindo a Carolina mais baixa e eu respondi que não
sabia. Ele pediu para deitar, escutar o coraçãozinho dela, eu deitei e comecei
a sentir vontade de fazer força. A partir daí o bicho pegou, foi uma atrás da
outra e fazer força era tão gostoso! Ele sugeriu que eu virasse de lado, alguém
ficou segurando minha perna para cima. Num dado momento achei que precisava
abrir mais as pernas e deitei de barriga para cima. Ficou o Gui de um lado,
segurando uma perna dobrada para trás e do outro lado a Juracy, fazendo a mesma
coisa. Eu fazia força e as contrações estavam punk, como uma cólica muito forte que durava um tempão. Era como se
uma mão gigante apertasse minha barriga.
Tinha uma menina
auxiliando, ela não sabia o que fazer. Estava desesperada, tentava ajudar de
qualquer jeito. Desligou o ar condicionado porque estava gelado. Ficou me
abanando porque estava calor. Teve uma hora em que ela perguntou se eu queria
que ligasse o ar de novo, só respondi que não, estava na partolândia, sorte
dela que não conseguia falar mais, senão a teria xingado..
O Carlos perguntou se
podia furar a bolsa, explicou que estava atrapalhando a evolução e mostrou um
palito comprido. Eu disse tudo bem e ele estourou, foi um grande alívio, como
se tirasse uma pressão.
A Juracy falou que já
estava vendo o cabelinho, ficou toda emocionada, achei que ela ia nascer
rápido. Eu fazia muita força e nada, comecei a ficar aflita, o que estava
errado, por que ela não nascia. Nunca tinha chamado o Carlos de doutor e
comecei a dizer: “Doutor, doutor, por que ela não nasce?”. O Guilherme me olhou
nos olhos e disse: “calma, está tudo bem, você está indo muito bem”. Um
verdadeiro doulo! Acreditei nele e me acalmei.
O Carlos disse que ela não
estava passando por baixo do osso e perguntou se podia usar o vácuo-extrator,
eu concordei. Da primeira vez escapou, esguichou sangue. Da segunda vez deu
certo e a cabecinha passou por debaixo do meu osso.
Eu queria descer dali, me
deu um desespero, mas todo mundo foi contra, não me deixaram. O Carlos disse
que ia precisar fazer episiotomia, que estava tudo esticado demais, eu
respondi: “fazer o que, se é necessário faça”.
Aí ele colocou um pano na
minha barriga, disse que era para eu pegar debaixo dos bracinhos dela e puxar
prá mim, cobrindo e enxugando com o pano.
Senti que se eu não
parasse de tentar controlar ela não ia nascer (como um orgasmo que, se a gente
não se solta, não se entrega, não acontece). Pensei: seja o que Deus quiser, aconteça
o que tiver que acontecer lá embaixo!
Dei um grito do fundo da
garganta e ela nasceu! Senti o círculo de fogo, depois um alívio imenso, muito
gostoso. Quando os bracinhos saíram, segurei por baixo dos ombros e a puxei.
Olhei prá ela, tão linda: minha filha! Era só isso que eu conseguia pensar:
minha filha! Eu estava eufórica. Por mim levantava na hora e saía com elas nos
braços.
O Carlos clampeou o cordão
e o Gui cortou, o pediatra da UTI estava na sala e levaram ela. O Gui foi
junto, acompanhar os procedimentos (argh!). Ela nasceu ótima, estava prontinha.
Só sabemos que estava mesmo prematura por causa dos sinais (orelhinhas moles,
falta de marca dos mamilos...).
Fiquei lá levando pontos
(cinco, de acordo com o médico). Depois ficamos eu e a Juracy em uma mini sala
com mais duas mulheres que tinham feito cesárea e estava lá tremendo horrores
por causa da anestesia (elas pareciam realmente mal, doentes e sozinhas – foi o
que pensei na hora, graças a Deus que não sou eu!). A Juracy até deu um apoio
prá elas. Eu não entendia por que tinha que ficar lá, em observação, eu estava
ótima, animada, querendo pegar logo a Carolina.
Fui para o quarto e pouco
tempo depois trouxeram ela, vermelhinha de tanto esfregarem, toda enroladinha.
Mamou bem logo de cara, eu estava muito feliz.
O parto foi uma
experiência maravilhosa. Doeu? Bastante. Logo depois eu tinha minhas dúvidas se
gostaria de experimentar aquilo de novo. Depois esqueci. Não me lembro
exatamente de como era essa dor. A natureza é mágica. Eu teria dez filhos de
parto normal sem anestesia.
As coisas não saíram como
eu desejava, acho que diversos fatores contribuíram, mas um foi fundamental: eu
não assumi o parto como meu. Não ocupei meu lugar de protagonista. Entreguei
nas mãos do médico, fiquei na posição de paciente, não fiz meu plano de parto,
não acertei os detalhes com ele e a doula, superestimei o tempo que faltava
para o nascimento. Não fiz valer qualquer uma das minhas vontades, a não ser
não tomar anestesia, que é o meu ponto de honra.
Eu pari minha filha e isso
não tem preço. Fui eu que a trouxe ao mundo. Fui a primeira a pegá-la no colo,
sujinha, sentir seu cheirinho. Embriaguei-me dos hormônios do parto. Foi
intenso, emocionante, poderoso.
Pena que existiram
intervenções que eu acredito que não teriam sido necessárias se eu pudesse ter
levantado, escolhido minhas posições. Tudo começou com a inibição. Penso que
teria sido melhor deixá-la vir, quem sabe de madrugada, aí a maternidade
estaria vazia e a liberdade seria maior. Acho que até minha postura seria
diferente, fazendo tudo para ajudá-la a nascer, ao invés de segurar. Depois foi
o ambiente hostil do CO. A restrição de posição que acabou acontecendo por tão
pouco (até tinha um banquinho baixo lá por perto, a Juracy comentou que
poderíamos ter usado), até um pano no chão servia! As intervenções foram
ocorrendo em cascata como sabemos que acontece rotineiramente. Ficaram cicatrizes. Muito maiores que a da
episio. Tive que digerir tudo que não foi bom no meu parto e só estou chegando
ao fim do processo agora. Tive uma longa fase de tristeza, de culpa, do “se”.
Culpei os outros, culpei a mim mesma, senti como se fosse uma perda. Mas hoje
sei que o “se” não existe. È importante entender e perdoar. Perdoar-se. Aceitar
não significa se conformar, eu queria diferente. Mas tudo que acontece tem uma
razão de ser, oferece uma lição, um aprendizado necessário. As mulheres estão
em diferentes fases do processo de descobrir-se, de entrar em contato com seu
feminino, com seu poder. Acho que eu até consegui bastante. Pelos meus medos,
minhas travas, minhas inibições. Hoje sou mais confiante, mais segura, mais
mulher. Tenho certeza que daria conta do parto dos meus sonhos. Infelizmente
não pretendo ter outro filho, por isso estou aqui, participando do movimento
pelo parto humanizado, querendo ser doula, ajudar outras mulheres a descobrirem
seu caminho. Assim eu curo as minhas feridas. Assim quem sabe eu faça diferença
nesse mundo de superficialidade, de não me toques, de não quero sentir nada.
Espero que logo toda mulher possa escolher, de forma consciente e esclarecida,
como quer que seu filho venha ao mundo. E que não faltem pessoas para dar
assistência nessa jornada.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Estamos em Obra!
Estamos
trabalhando no Blog para que ele fique mais funcional e informativo.
Queremos que ele
seja a cara da Associação das Doulas de Minas Gerais e ajude a associação a
cresce e se comunicar com doulas, gestantes e todas as mulheres.
Por isso, por
algum tempo, você encontrará algumas partes incompletas. Contamos com a compreensão
de todas!
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Reunião de Fundação
EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLÉIA DE FUNDAÇÃO
Associação de Doulas de Minas Gerais
EDITAL DE CONVOCAÇÃO
A presidente da comissão provisória para fundação da Associação de Doulas de Minas Gerais, convida a todas as doulas do Estado de Minas Gerais para a Assembléia Geral de Fundação, a realizar-se no dia 10 de julho de 2011, às 10h da manhã, no auditório do Parque Ecológico da Pampulha -
Associação de Doulas de Minas Gerais
EDITAL DE CONVOCAÇÃO
A presidente da comissão provisória para fundação da Associação de Doulas de Minas Gerais, convida a todas as doulas do Estado de Minas Gerais para a Assembléia Geral de Fundação, a realizar-se no dia 10 de julho de 2011, às 10h da manhã, no auditório do Parque Ecológico da Pampulha -
Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego, localizado à
Av. Otacílio Negrão de Lima, próximo ao nº 5.900 - Pampulha,
na cidade de Belo Horizonte - MG, com a seguinte ordem do dia:
a) discussão e aprovação do Estatuto;
b) aprovação dos documentos inerentes à sua constituição;
c) eleição da primeira diretoria da Associação de Doulas de Minas Gerais;
d) escolha da logomarca da Associação de Doulas de Minas Gerais;
e) definir forma de levantar custo para o registro e início dos trabalhos da Associação.
Luísa da Matta Machado Fernandes
Presidente da Comissão Provisória
25 de Junho de 2011
Marcadores:
convocação reunião,
reunião de fundação
Nascimento
Nesse mês de julho, abençoada pelo frio e pela lua que cresce,
aquecida pelo calor da nossa esperança no encontro que se aproxima.
Nasce.
E como grávidas no finalzinho da gestação:
Tempo de dúvidas, incertezas, angústias.
aquecida pelo calor da nossa esperança no encontro que se aproxima.
Nasce.
Serei capaz de me partir (parir)?
E depois, o que restará de mim?
Sentimos as dores que prenunciam esse acontecimento.
Estamos preparadas.
Nós, Doulas de Minas, na esperança desse encontro.
De um abraço coletivo.
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